Pacientes agitados e Alzheimer.

 

Terapia da Boneca e a Doença de Alzheimer

     Do inglês, Dolls Therapy (a Terapia da Boneca) é uma abordagem não farmacológica que vem ganhando destaque no manejo dos sintomas da Doença de Alzheimer.  Tem sido utilizada com pacientes que apresentam sintomas de angústia, agitação e até mesmo dificuldades de comunicação.  Trata-se da inserção de uma boneca geralmente no quadro intermediário do desenvolvimento da doença e de forma mais natural possível. Isso significa que a boneca não é apresentada ao paciente como uma boneca, em uma caixa ou embrulhada, mas de forma natural, como se de fato fosse um bebê que necessita de cuidados.

   Pode ser comum associar a ideia de infantilização do idoso à terapia em questão. Porém, esse pensamento não é verdade. A ideia de introdução de uma boneca no ambiente em que o portador de Alzheimer se encontra pode trazer benefícios no sentido de geral, como por exemplo, uma sensação de pertencimento do indivíduo, que, muitas vezes sente-se agitado e entediado frente às demandas realizadas pelos outros membros da sua rede de suporte. Além disso, oferece conforto e alívio, visto que remete à ideia de cuidado, carinho e a uma fase da vida que geralmente é encarada com muito ânimo e boas lembranças: a fase da maternidade/paternidade (pois a terapia não é restrita as mulheres, demonstrando funcionar muito bem com homens).

    Apesar disso, a terapia da boneca não funciona em todos os casos. Se o idoso em questão foi um adulto que não apresentou um bom relacionamento ou não possui afinidade com crianças, a ideia certamente causará mais danos do que benefícios. Ademais, deve haver cautela na introdução do bebê, havendo a necessidade da supervisão diária do relacionamento do indivíduo com a boneca (no sentido de identificar se de fato está sendo uma situação gratificante ao portador).  O idoso não deve ser forçado caso não reaja bem. Devido a isso, não é indicado o uso da terapia na fase inicial do Alzheimer, pois a percepção do brinquedo pode gerar sentimentos negativos bem como estimular a angústia, tristeza, agitação e raiva, que se afloram diante do diagnóstico da demência.

    Além dos benefícios já citados, também favorece a interação social, o desenvolvimento da comunicação que tende a entrar em declínio com o avançar do quadro, aumento da autonomia e a estimulação sensorial, tendo como consequência a melhora da qualidade de vida do paciente e também da sua rede de suporte, que é diretamente influenciada pelo estado do ente querido a cada declínio proveniente do quadro.

Como introduzir a boneca

A apresentação da boneca é uma parte muito importante e o objetivo é causar um impacto positivo. Algumas dicas são:

  • A apresentação deve ser feita de maneira discreta e devagar;
  • Não force a pessoa a pegar a boneca;
  • Nunca entregue a boneca em uma caixa;
  • A boneca deve ser o mais parecida possível com um bebê de verdade
  • Sempre use uma boneca cujos olhos estão abertos! O doente pode achar que bonecas que estão sempre de olhos fechados estão mortas, e isso pode gerar sofrimento e mais angústia.

O melhor momento para introduzir a boneca é no início de estágios intermediários da doença. Essa recomendação é devido ao fato de que nos estágios iniciais o doente pode não gostar ou não aceitar a terapia por saber que a boneca não é um bebê real.

Mas, ainda nesses estágios são observados benefícios como o prazer de nomear a boneca e realizar trocas de roupas constantes.

O doente em estágio intermediário apresenta uma tendência a se comunicar com a boneca. Ele pode conversar, abraçar, fazer carinho e criar uma relação com o brinquedo. Há casos de idosos que se tornaram ligados à sua boneca e aliviaram angústias, apresentando melhoras até no sono.

Na fase intermediária os idosos podem esquecer o nome da boneca, apresentar alguma dificuldade para vesti-la ou quererem alimentá-la. É a fase em que os idosos tendem a ter mais apego com o brinquedo.

Introduzir uma boneca no estágio final da doença pode não ser tão eficaz, afinal, o doente não estará acostumado com isso e pode não aceitar. Além disso, uma das diferenças é que ao apresentar uma boneca na fase inicial, o idoso pode criar um vínculo com ela e esse vínculo poderá proporcionar um conforto nas próximas fases que virão.

Mas, mesmo em estágios avançados esse tipo de terapia pode trazer resultados. Introduza a boneca aos poucos e observe como o doente interage com ela. Uma dica é convidá-lo para sentir o cabelo, mãozinhas e pezinhos do bebê de brinquedo.

Dúvidas? Sugestões?

Referência

JAMES, I. A.; MACKENZIE, L.; MUKAETOVA‐LADINSKA, E.. Doll use in care homes for people with dementia. International Journal of Geriatric Psychiatry: A journal of the psychiatry of late life and allied sciences, 2006, 21.11: 1093-1098.


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