Dona Lúcia e os Mistérios do Entardecer.

No início da tarde, Dona Lúcia era uma senhora tranquila. Gostava de ficar sentada na varanda, observando os passarinhos e tomando café com leite. Conversava pouco, mas sempre tinha um sorriso suave no rosto. Porém, bastava o sol começar a se pôr para que algo mudasse. — Quem são essas pessoas na sala? — perguntava, franzindo a testa. Não havia ninguém. Apenas eu e ela. — Acho que estão querendo levar minhas coisas… — continuava, olhando para o corredor vazio. Eu tentava explicar, mostrar que tudo estava no lugar, mas seus olhos inquietos vagavam pelo ambiente como se buscassem algo invisível para mim. Uma vez, logo após o jantar, ela pegou sua bolsa e começou a caminhar em direção à porta. — Para onde a senhora vai, Dona Lúcia? — Preciso ir pra casa. Está tarde, minha mãe deve estar preocupada. A mãe de Dona Lúcia havia falecido há mais de quarenta anos. Eu respirei fundo. Se dissesse a verdade, ela ficaria assustada ou até zangada. Então, optei por um desvio: — Está muito frio lá for...